domingo, 23 de março de 2014

"Click"

Algo estava me incomodando o dia inteiro. Algo importante. Algo que eu deveria me lembrar. Mas eu não conseguia. Quanto mais eu tentava me lembrar o que era, mais distante da resposta eu parecia ficar.
Normalmente o tráfego me permitia chegar no escritório policial onde eu trabalhava por volta das 7 da manhã, mas tive um entrevisto, pois alguém estacionou um carro na minha vaga. Meu chefe Willian era o único no escritório, caminhei pelos corredores e sentei na minha mesa. Mas o tráfego hoje estava um inferno, então eu cheguei lá às 7:15, e Willian olhou para mim com um sorriso, como se estivesse prestes a comentar sobre o meu atraso.


7:30. Eu olhei para o calendário. 22 de março. Ainda não conseguia colocar o dedo sobre a data. O que havia de hoje? Eu procurei na mesa em busca de pistas, em algum lugar entre as montanhas de papelada desorganizada eu encontraria alguma dica do que estou esquecendo no dia de hoje. Meu crachá. Um porta retrato com foto de minha esposa. Declarações. Tribunal. Merda!


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Era para eu estar no tribunal. Como eu consegui esquecer? Eu tinha que chegar a tempo. Droga. 7:45. Eu ia me atrasar. Mas antes tarde do que nunca. Corri para fora do prédio e entrei no carro. O caminho para o tribunal era de 20 minutos. Eu fiz em 10.

10:15 h. O café estava frio. Tomei um gole de qualquer maneira. O réu do tribunal não era um cara de sorte. Eu o prendi em flagrante. O que era uma piada, porque diziam que ele era perigoso e muito cuidadoso. Ele foi condenado a prisão. Eu caminhei até meu carro e dirigi de volta ao escritório devagar observando os carros que me ultrapassavam. Quase todos eles. Exceto por aquele Camaro preto, ele parecia estar me seguindo desde o tribunal. Eu ignorei e enfiei a mão no casaco procurando algum cigarro. Não havia nenhum.


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Eu esqueci no balcão. Merda. Ja era a segunda coisa que eu esqueci hoje. Willian fuma. Vou pegar um cigarro dele.

02:00. Willian ainda estava em patrulha. Fiquei tentado chama-lo no rádio só pra ele me trazer um cigarro. Isso é um vicio dos infernos.

Às 02:45 fui chamado ao escritório do capitão sobre uma ameaça de morte. A ameaça de morte feita para mim. Aparentemente, por não aceitar suborno daquele condenado no tribunal hoje de manhã.

4:30. O escritório policial parecia mais quieto do que o normal hoje. Algo parecia fora do normal. O que há  de errado com o John? Toda vez eu o pegava ele olhando para mim, então rapidamente ele desviava o olhar. Havia algo no meu rosto? Passei a mão no meu rosto para verificar.


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Percebi que a sensação de ter esquecido alguma coisa na verdade eram varias. Eu esqueci de fazer a barba hoje. Foda-se . Eu estaria fora do trabalho em 30 minutos. Mal podia esperar por um chuveiro quente.

05:20. Transito estava um inferno de novo. Pingos de chuva tamborilou longe no telhado do meu carro. Os limpadores de para-brisa estavam fazendo aquele som de chiado. Só um idiota me ultrapassou.
Por volta das 06:05, cheguei a minha garagem. O carro da minha esposa não estava lá. Ela é geralmente ja estariaem casa essa hora. Eu fiquei um minuto a maia no carro observando o movimento da rua, sem saber exatamente o que eu estava procurando. Devia ser apenas instintos no trabalho eu acho.
Saí do carro e caminhou até o meio-fio. Eu vi um carro preto estacionado na berma da estrada cerca de meio quarteirão abaixo. Eu não podia dizer a marca ou modelo. A chuva tornava difícil de ver. Se eu tivesse que adivinhar, diria que era um...


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... Um Camaro. O mesmo o que eu vi acelerando longe no tribunal esta manhã.  Eu não me esqueceria dele. Meus músculos estavam tensos. Eu me abaixei por trás do carro e espiei por cima na minha casa.
As janelas. Alguém estava me observando de dentro. Eu tinha certeza disso. Eu saquei minha arma.
Eu fui ao redor do lado de trás da casa, permanecendo baixo pisando pelas sombras. Eu deveria ligar para o escritório policial. Eu instintivamente agarrei a minha cintura, onde o rádio geralmente ficava.


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Nada lá. Hoje era o dia do esquecimento. Eu tinha deixado na estação policial, mas não era o momento para refletir sobre isso. Peguei o telefone celular para ligar para o meu parceiro.

Meu polegar pairou acima da tela. Minha esposa veio à mente. Decidi ligar pra ela primeiro. me certificar que ela estava bem. Eu disquei o número dela.
Ele tocou.

O telefone estava na casa, mas ninguém atendeu. Chamou duas vezes e a chamada foi para o seu correio de voz.

Uma sensação de peso pesado em meu peito. O Camaro preto. A ameaça de morte. O sentimento que me incomodou durante todo o dia.
Eu apontei a minha arma em linha reta na frente de mim e dei três passos para trás. Então eu corri para a frente e chutou a porta. Ela se abriu .
Uma fração de segundo mais tarde, alguém salto ao meu lado. Meu dedo já estava no gatilho. Então puxei.


BANG


06:15.


As luzes se acenderam. Meu parceiro gritou. Willian se levantou de trás do balcão. Os outros saíram do esconderijo. Suas bocas estavam abertas, mas ninguém disse nada.
Minha esposa estava caída na minha frente em uma poça de sangue com um tiro na cabeça.


**clique


Era meu aniversário.

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